quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Darwin na Bahia


A bordo do navio Beagle, Darwin iniciou em 1831, aos 22 anos, uma jornada que repercutiria por toda a sua vida. Como Darwin escreveu, “A viagem do Beagle foi de longe o acontecimento mais importante em minha vida e determinou toda a minha carreira”. Foi ao ancorar na Baía de Todos os Santos ao meio-dia de 28 de fevereiro de 1832 que ele disse “A vista da cidade é magnífica!”. Dia 1º de março, portanto, há 176 anos atrás, Darwin escreveu: “Ninguém seria capaz de imaginar nada tão belo quanto a antiga cidade da Bahia; ela fica docemente aconchegada num bosque exuberante de lindas árvores e, situando-se sobre uma colina íngreme, descortina as águas calmas da grande baía de Todos os Santos. As casas são brancas e altivas... Os conventos, os pórticos e os prédios públicos quebram a uniformidade das casas; a baía é repleta de grandes navios. Em suma, e o que mais se poderá dizer? Ela é uma das paisagens mais lindas dos Brasis... Creio que os afetos, assim como as coisas boas, florescem e aumentam nestas regiões tropicais... A convicção de estar andando pelo novo mundo ainda é espantosa a meus próprios olhos...”. Aqui ele coletou animais, plantas, rochas e, principalmente, teve o seu primeiro contato com as florestas tropicais. Fruto das suas caminhadas pela cidade, foi que ele percebeu: “É uma coisa nova e agradável para mim tomar consciência de que se dedicar a história natural é fazer o meu dever e que, se eu desdenhar este dever, estarei ao mesmo tempo negligenciando o que por alguns anos me deu tanto prazer”.
A Salvador com que Darwin se encantou é muito diferente da Salvador atual, que, a despeito de manter algumas de suas belezas naturais, já não exibe aquela exuberante floresta que fazia com que ele ouvisse o canto dos pássaros e dos grilos a bordo do Beagle, ancorado na baía. Hoje, Salvador é a cidade com o menor índice de distribuição de renda do país, resultado também de algo que Darwin abominou: a escravidão. Quando desembarcou pela primeira vez, horrorizou-se ao ver-se em um país que ainda abrigava “aquele escândalo para as nações cristãs, os escravos”, que eram importados legalmente da África. A escravidão era um problema que sempre despertava as mais fortes emoções em Darwin, cujos avós participaram, ambos, do movimento antiescravagista. 

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