terça-feira, 7 de junho de 2011

Bactéria provoca crise na Europa

A bactéria misteriosa que assusta a Europa - a Escherichia coli (E.coli) - já provocou um prejuízo de 300 milhões de euros para fazendeiros e está gerando também uma guerra comercial entre produtores de legumes, diplomatas, chefes de Estado e serviços de saúde. Nesta terça-feira, a União Europeia (UE) se reunirá em caráter emergencial para aprovar um plano de resgate milionário para produtores de legumes que simplesmente deixaram de vender desde que a Alemanha os acusou de ser a origem da bactéria. A reunião mostrará ainda a situação embaraçosa que vivem as autoridades sanitárias europeias, que não conseguem definir um plano para lidar com a bactéria e, a cada dia, apontam um culpado.

Czarek Sokolowski/ap/aeMilhares de toneladas de legumes começaram a ser destruídos, diante da recusa dos consumidoresMilhares de toneladas de legumes começaram a ser destruídos, diante da recusa dos consumidores
Milhares de toneladas de legumes começaram a ser destruídos pela Europa, diante da recusa dos consumidores e restaurantes, até que se saiba exatamente qual a origem da bactéria. Só na Romênia, 1,5 mil toneladas de pepino foram destruídas ontem em Bucareste. O pepino foi inocentado. Mas o dano já estava feito. No fim de semana, brotos de feijão foram tidos como os novos "vilões". Uma vez mais, pode ter sido apenas um alarme falso.

Ontem, uma reunião de ministros da Saúde da UE admitiu que o sistema de alerta sanitário "não funciona" e que decisões não podem mais se basear em suposições. O comissário europeu de Saúde, John Dalli, reconheceu que "ajustes" serão feitos. O objetivo é que, no futuro, o alerta sanitário será declarado com base em "dados científicos e não por qualquer declaração".

Por enquanto, porém, o mal-estar está presente na Europa Os mais afetados teriam sido os produtores de legumes da Espanha, já que a primeira informação era de que produtos exportados pelo país ao restante da Europa eram os responsáveis pelas mortes. O pepino espanhol acabou inocentado. Mas as vendas não foram retomadas e, agora, o governo de Madri exige da UE uma ajuda de 400 milhões de euros para cobrir as perdas dos produtores.

No fim de semana, os chefes de governo José Luis Rodrigues Zapatero (Espanha) e Angela Merkel (Alemanha) conversaram sobre o assunto. Os espanhóis acusam os alemães de terem tirado conclusões precipitadas. Merkel admitiu que vai apoiar nesta terça-feira a criação de um mecanismo de compensação. Porém, indicou que não será a Alemanha que pagará e o dinheiro terá de vir de toda a Europa.

Segundo a porta-voz da UE, Pia Ahrenkilde Hansen, propostas concretas serão apresentadas na reunião emergencial desta terça em Luxemburgo para compensar os produtores. "Houve uma queda no consumo em toda a Europa e a crise se tornou regional. Portanto, temos de encontrar uma solução regional ", disse.

Jose Pozancos, diretor do grupo de exportadores de produtos frescos da Espanha, a Fepex, alertou que a queda nas vendas foi de 40% na primeira semana e que, ontem, as negociações tinham parado. A região mais atingida é a de Almeria, com 15 mil fazendas e uma grande maioria de imigrantes irregulares trabalhando na colheita.

O pedido espanhol por compensações não será o único. Com mais de 2,2 mil casos pela Europa, produtores da França e outros países do bloco alegam que suas vendas também desabaram desde que a bactéria passou a fazer parte das manchetes dos jornais locais. Produtores da Alemanha, Holanda, França, Bélgica, Itália e Portugal querem compensações.

Na Holanda, produtores estimam que já deixaram de vender 80 milhões de euros. Na Alemanha, seria pelo menos 1 milhão de euros por dia, além de 100 mil euros na Romênia.

Restaurantes deixaram de oferecer saladas a seus clientes e os supermercados estão acumulando os produtos que não podem vender. Segundo Philippe Binard, da Freshfel, representante da indústria de legumes da Europa, não são apenas os agricultores que perdem. Empresas responsáveis por embalar os produtos e transportar a mercadoria estão paradas.

Fora do bloco, exportadores  temem concorrência desleal

Na UE, o bloco admite que terá de dar compensações. Mas Bruxelas alerta que a ajuda terá de ser limitada para não transformar-se em subsídios ilegais e ser questionado na Organização Mundial do Comércio (OMC). Por lei, a UE poderá dar compensações equivalentes a apenas 5% da colheita de 2011 e 15% da média dos últimos três anos. Mais que isso, significaria violar os acordos internacionais.

Brasil, Argentina, Austrália e Estados Unidos prometem ficar de olho no mecanismo que será criado nesta terça-feira para evitar que a ajuda não seja um subsídio ilegal disfarçado. Para exportadores de todo o mundo, uma ajuda deve ser limitada ao dano causado e não ampliada ao setor em todo o continente.

"Nos últimos meses, os europeus têm usado diferentes explicações para justificar os subsídios que distorcem os mercados e acabam afetando nossas vendas", acusou um diplomata do Mercosul.

O poderoso lobby da Confederação de Agricultores da Europa insiste que já há quem esteja quebrando. Segundo Amanda Cheesley, da entidade, o pepino perdeu 75% de seu preço no mercado. Na Itália, maior produtora europeia de legumes, o pepino foi negociado por 15 centavos de euro o quilo nesta segunda-feira (06). Em abril, o valor era de 70 centavos.

As perdas não se limitam ao comércio regional. Vladimir Putin, primeiro-ministro da Rússia, decidiu suspender toda a importação de legumes da Europa, no valor de US$ 600 milhões. A decisão promete azedar a cúpula UE-Rússia marcada para a próxima quinta-feira (09). Bruxelas acusa Moscou de estar violando regras do comércio. Entretanto, Putin foi claro em anunciar que irá violar as regras e evitar que "pepinos podres" entrem na Rússia para "envenenar a população".

Moscou agora terá de engolir as suas declarações, já que está provado de que o culpado não é o pepino. A UE acusou Moscou de estar retaliando por não facilitar a entrada da Rússia na OMC

O Catar e o Líbano também fecharam suas fronteiras ao legume europeu e o temor dos produtores pela Europa é de que outros países sigam o mesmo caminho. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), embargos não são recomendados.

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